26/05/2010

Quem deu um salto no escuro?

"Seis de cada dez crianças brasileiras estudam segundo os dogmas do construtivismo, um sistema adotado por países com os piores indicadores de ensino do mundo."
Marcelo Bortoloti


Quem iria imaginar que uma revista conceituada como a Veja São Paulo colocaria nas bancas uma matéria sem critérios, sem referências concretas e que induz o leitor leigo a desacreditar na vivência construtivista. Parece que em nosso país não temos corrupção, pessoas discutindo no trânsito, vagas de idosos desrespeitadas, lixo na rua, etc. E olha só...Fomos educados no método tradicional. Então pergunto: O que ganhamos com essa postura tradicional, já que o conformismo e o consumismo é a nova tendência deste século?


Deixo aqui o meu protesto e a carta enviada para revista Veja.

Por Consuelo Leão
Ao Senhor Diretor de Redação VEJA,

Meu nome é Edna Consuelo Leão, sou pedagoga e atuo na educação há 20 anos.

Chamou-me muito a atenção a matéria sobre o construtivismo “Salto no escuro” na edição de 12 de maio de 2010, especialmente pela emissão de juízos de valor. Entendo o jornalismo como uma ferramenta importantíssima para a reflexão crítica, contudo a matéria condena, de forma amadora e desprovida de argumentos reais, uma teoria séria e que nada tem a ver com o laissez-faire apresentado. A condução do texto é tendenciosa.

No trecho: “Ninguém sabe ao certo como o construtivismo funciona” é apresentado, na minha opinião, um cenário real, infelizmente, entretanto a referida matéria traz tantos equívocos que certamente não contribui para a mudança dessa realidade.

Creio que uma das questões mais tristes que nós, pedagogos, nos deparamos é que parece que todo mundo entende sobre a aprendizagem e educação escolar, todos possuem concepções - em geral infundadas – e todos opinam apresentando-se como conhecedores do assunto... Questiono-me se teriam o mesmo problema os médicos, engenheiros, jornalistas, advogados?

De fato, é necessário que as famílias, antes de escolherem a instituição que matricularão seu filho, conheçam a concepção filosófica que a escola adota, e por isso, o papel da mídia é de valor inestimável. Dessa forma, lamento imensamente a publicação da matéria que apresenta conceitos desconhecedores da proposta construtivista como nas transcrições a seguir: “pois, afinal, cabe aos próprios alunos definir com base em sua realidade o que querem aprender.” Ou ainda: “As aulas construtivistas caem no vazio e privam o aluno de conteúdos relevantes.” Também: “...repetição do contato visual...” referindo-se à alfabetização. Lamentável! Nada disso é verdade!

Na Finlândia, país que consecutivamente teve a melhor nota no PISA, tem por base epistemológica a teoria construtivista, exemplo desconsiderado nessa matéria que aponta o construtivismo como um sistema adotado por países com os piores indicadores de ensino.

Tenho estudado o construtivismo há 10 anos, fiz dois cursos de Pós-Graduação no tema referido e, ainda, julgo-me uma simples aprendiz no assunto, entretanto, certamente eu poderia contribuir muito para que questões primárias como as apresentadas na matéria fossem evitadas.

Desejo que minha carta ofereça ao senhor a oportunidade de repensar sobre o merecido respeito que nós, educadores construtivistas, merecemos.

Mais protestos:

Luis Nassif, professor da USP e estudioso do construtivismo

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